Até me benzi antes de escrever este texto. Vamos lá. Quando Deus começou a enunciar os seus Mandamentos, lá do alto do Monte Sinai, Moisés apressou-se a pegar no calhau mais próximo. Eles constituíam uma equipa eficiente: Deus ditava e Moisés anotava. No entanto, das duas uma, ou Deus ditou com uma rapidez sobrenatural ou Moisés era lerdo a anotar, pois apenas há registo de 10 Mandamentos e eu sinto a falta de um 11º. Confirmo que ‘11-Não Encobrirás’ não ficou gravado nem em pedra, nem na mentalidade da Igreja (igualmente dura, por sinal).
Nos últimos tempos, tem existido um crescente aglomerado de denúncias de abusos sexuais na Igreja e estes testemunhos são recebidos pela instituição católica com ceticismo e desvalorização. Para além de abominável, não deixa de ser uma posição curiosa vinda por parte de uma organização cuja base da sua existência se deve ao conceito de fé, ou seja, o oposto de ver para crer. Pelos vistos, na diocese portuguesa, vê-se (mesmo que sem querer) e insiste-se em não se crer, encobrindo-se. Caminhar sobre as águas é tranquilo, agora javardice abjeta na sacristia!? Rezai um (pai) pau nosso, não estais bem da cabecinha.
No meio deste caos pouco cristão, surge um especialista em todas as matérias e emissor profissional de opiniões não solicitadas. E não, o tudólogo a que me refiro não sou eu. Trata-se do Presidente da República, que não só andou a avisar o bispo José Ornelas de que existia uma investigação em curso, como também afirmou à comunicação social que os 400 e tal casos de abusos pareciam poucos. Julgo que Marcelo, um patriota ferrenho, terá olhado para as mais de 300 mil denúncias na Igreja francesa e pensou: ‘caramba, até a disseminar a semente episcopal contra a vontade estamos na cauda da Europa!’. Nós percebemos, Marcelo. Aguenta rijo.
Ainda que só 1 caso fosse 1 caso a mais, muita tinta correu acerca das declarações do Comandante Supremo das Forças Armadas. António Costa veio, inclusive, defender o Presidente e dizer que não era ele que tinha de pedir desculpa, mas sim o povo português por ter interpretado mal. E bastou isto, meus caros. Mal Costa afirma que Marcelo não tem de se desculpar, Marcelo vai a correr pedir desculpa. Marcelo bem que tinha avisado que o 2º mandato seria diferente. Esta sim, é uma relação saudável entre presidência e governo: às turras.
Voltando ao tópico dos pecados da Igreja, não compreendo a lógica de uma instituição corrompida não pagar impostos, por exemplo. Quer dizer, não paga IMI; mas paga IVA quando vai comprar vinho ao Continente. A História revela que, dentro da Igreja, existiram os monges copistas, autênticas impressoras humanas encarregadas de preservar o conhecimento literário. Várias prensas de Gutenberg e uns computadores mais tarde, os monges deixaram de ser copistas e são hoje chupistas.
Jesus declarou somente “deixai vir a mim as criancinhas” e não a versão alargada e preferida dos padres ‘deixai vir a mim as criancinhas para lhes fazer festinhas’. Não os perdoais Senhor, que eles sabem exatamente o que fazem. Isto não vai lá com perdão, mas a solução também começa por p e termina em ão. Deixo-vos chegar lá sozinhos.
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