Sua majestade faleceu e o reino está assolado pela dúvida de como progredir sem a sua adorada monarca. E não, não me refiro ao reino de Westeros nem a uma borboleta em específico. Reporto-me, na realidade, ao Reino Unido e à Rainha Isabel ll, como o leitor já perspicazmente deduziu. Pessoalmente, também me encontro assolado pela malfadada dúvida, mas por outros motivos. Por exemplo, porque é que a rainha lá é Elizabeth e cá é Isabel? Pela lógica, não deveria ser, quando muito, Elizabete? Eu nem faço questão que aqui na Ocidental Praia Lusitana a soberana seja Elizabete, devia antes permanecer Elizabeth. Enfim, aproveito para informar que, se me virem a praticar atos de hooliganismo, não sou eu. É o sujeito John William Woods.
O prazo de validade da rainha expirou a 8 de setembro e, à data da publicação desta crónica, as cerimónias fúnebres ainda não foram concluídas. Inicialmente, o seu corpo foi transportado para Edimburgo, numa viagem de cerca de 200 km. Isto é que é qualidade de vida; mesmo depois de esticar o pernil, a jovem rainha viaja numa espécie de interrail macabro, mas com tudo pago! Entretanto, ela tem estado exposta em caixão aberto para possibilitar que o pessoal se despeça e arremesse arranjos florais. Aparentemente, faz tudo parte do protocolo.
Eu, no entanto, tenho outra leitura da situação. A verdadeira razão para ela estar no caixão em modo descapotável é porque não tomou banho e arejar é uma necessidade e não uma mera opção. Ou isso ou trata-se de uma complexa manobra de monopolização dos meios de comunicação social para colocar em curso uma super-híper-mega operação de charme ao conceito de monarquia em pleno ano de 2022. Quanto mais se prolongar a situação, maior a probabilidade de se plantar com sucesso a ideia de que a família real tem genuína importância. Em retrospetiva, talvez a hipótese olfativa seja menos provável.
Não obstante, Portugal decretou 3 dias de luto nacional e fê-lo 7 dias depois da rainha iniciar o seu sono infinito. Muita crítica choveu, mas eu possuo guarda-chuva, felizmente, pois não fiquei inquietado. O que é interessante aqui não é o luto nacional em si, mas antes o desfasamento com que o mesmo é decretado. Tanto o longo processo de despedida da rainha como a típica atitude portuguesa de deixar para amanhã o que se pode fazer há 1 semana estão enraizadas nas tais longas relações políticas apontadas pelo Concelho de Ministros. Haverá algo mais tuga do que demorar 12 dias para sepultar uma noventona? É esta a nossa cumplicidade para com a Commonwealth: uma empatia assente na base temporal do ‘enterra isso depois, pá’.
A transferência de poder da coroa ocorreu suavemente, com o rei Carlos lll (devia ser Charles) a assumir as rédeas da situação. Diz-se que há que ter mãos firmes para garantir um reinado próspero. No entanto, os dedos de Carlos aparentam ser salsichas acabadinhas de desenlatar. Por conseguinte, o novo rei até pode ser do Reino Unido, mas os seus dedos são de Frankfurt.
É inegável que o mundo burocrático e institucional do Reino Unido tenha levado um valente safanão. Em menos de 1 semana, os britânicos foram da dupla clássica de Boris Johnson com a sua majestade Isabel Segunda de Seu Nome, para a dupla mais verdinha de Liz Truss com o rei Carlos Trilogia. Isto é o equivalente a estarmos habituados a beber Coca-Cola e de repente, sem qualquer ato que se assemelhe a um aviso, espetarem-nos com uma Pepsi pela goela abaixo. O mundo não está preparado para estas mudanças radicais.
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