Lembro-me, com clareza, da minha professora de geografia a apresentar à turma em que consistiam os pontos cardeais. Ela movimentava os braços com uma cadência de invejar, recriando ali uma espécie de rosa-dos-ventos antropomórfica. O que lhe faltava em graciosidade, ela compensava com velocidade. Os rodopios dos membros superiores da docente eram de tal ordem, qual helicóptero em esteroides, que ela acabou por perder o rumo e desmaiar. Ficou a leste, não só da aula como da sua consciência.
Apesar do trágico sucedido, considero relevante refletir acerca dos pontos cardeais: Norte, Sul, Este e Oeste. Mais concretamente, refletir acerca da sua popularidade. Qual será o ponto cardeal mais baril? Investiguemos, caro leitor, como Carlos da Maia e Maria Eduarda quando davam uma escapadela à Toca: juntos.
O Norte é um clássico possante na cultura pop. Por exemplo, a mitologia nórdica é abrangente e aliciante, ao passo que a mitologia sulista é secante por ser inexistente. O Norte possui vikings vigorosos, pinguins fofinhos e uma imponente muralha de gelo que vem com o apropriado e amigável aviso: o inverno está a chegar. Se o mundo de Guerra dos Tronos fosse real, Trump teria construído a muralha e enviado a conta aos White Walkers. Um aspeto maçador do Norte é que alberga a Coreia chata e o respetivo ditador de corte de cabelo duvidoso. De notar que mal Kim Jong-un cesse o exercício de poder, as rédeas da nação serão entregues a Kim Jong-dois com celeridade.
Por seu lado, o Sul revela-se quentinho, talvez devido aos campos de algodão… Não obstante, o Sul deu-nos um acérrimo defensor da liberdade sob a forma de um Morgan Freeman disfarçado (conhecido por muitos como Nelson Mandela). Aliás, a África do Sul também presenteou o mundo com ‘Waka Waka’, a música da Shakira que, no verão de 2010, viveu alojada na minha mente sem pagar renda. O Sul tem a seu favor o descanso, a julgar pelo que acontece no Alentejo. Por vezes, por uma questão de marketing, o Sul torna-se parceiro do Oeste, dando origem a coisas como o festival MEO Sudoeste ou o clube de motoqueiros Javalis do Sudoeste. Confirmo que tanto os festivaleiros como os motoqueiros apreciam um bom abanão de capacete.
Por falar em Oeste, está na altura de pousar o olhar sobre a terra dos cowboys (e cowgirls, não há cá discriminações). O Oeste é terra de foras-da-lei e xerifes (como o Woody de Toy Story), onde os caminhos de ferro são pilhados (como no Mascarilha) e o pessoal diz parvoíces (como o Kanye West).
Já o Este (e não esse ou aquele) anda ocupado a ser palco de guerra e atrocidades. Costumava indicar o lado onde nascia o Sol, mas agora está permanentemente mergulhado nas trevas. Mas atenção, não são só pessoas a tentar escapar do terror de Este; até os cereais têm dificuldade em fugir para virem ter à minha tigela ao pequeno-almoço. Meu rico Nestum!
Assim sendo, qual dos pontos cardeais venceu esta batalha da rosa-dos-ventos, sendo coroado como o ponto cardeal mais porreirolas? Confesso que este exercício escrito talvez tenha sido inconclusivo, mas o processo criativo vai demasiado longo para o texto não ser publicado. A minha bússola moral encontra-se calibrada e não poderia deixar que a minha professora de geografia tivesse rodopiado em vão.
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